domingo, 29 de janeiro de 2012

Esperança.

Já estava amanhecendo e ela se encontrava ali, olhando pro nascer do sol, sentada em sua janela, com as pernas em direção a rua. Ela não tinha dormido essa noite, nem na anterior, e nem nas outras. Havia algo que a incomodava, algo que na realidade incomodaria a qualquer um. Ela estava com uma expressão vaga, não se definia o que ela expressava. Sabia apenas que havia um vazio no seu peito, um vazio que há muito não era preenchido. Ela sentia saudades, e não dormia por causa da distância que a separava de alguém que ela sempre desejou que estivesse ali, ao seu lado, sentado na janela, olhando o nascer do sol. Com o primeiro raiar de sol veio o primeiro suspiro, e assim foi raio após raio, até o sol aparecer majestoso e belo em toda sua grandeza. Ela não se importava com os minutos, talvez as horas que passava sentada ali, ela na realidade não se importava mais com nada. Parecia que essa ausência fazia com que ela ignorasse a tudo e a todos, fazia ela focar apenas nisso, na dor que ela sentia por causa da falta de quem tanto amava. Ela não dava mais bolas pro fato de não estar mais vivendo, ela simplesmente existia. Existia também só por um motivo, que era o de acreditar que um dia, ele poderia estar sentado ao lado dela na janela, olhando o nascer do sol, e consequentemente todo seu vazio e sua dor desapareceriam. A porta de seu quarto estava trancada, mas isso não fazia diferença, afinal estava morando sozinha. Ficava trancada apenas pra tentar se proteger, por achar que se trancando em um espaço só seu, o mundo lá fora não poderia entrar. O único contato que ela tinha com seu ser tão desejado era via telefone, fazendo com que esse se tornasse parte dela, não desgrudando dele nunca. Estava sempre a espera de uma ligação, de uma mensagem ou algum sinal de vida. Ela vivia por ele. Ela dormia por ele. Ela, querendo ou não, passou a ser ele. Quando ele ligava, prontamente ela atendia e falava que estava a espera de sua ligação, e assim eles conversavam por horas a fio, fantasiando planos para um futuro incerto. Nesse dia não foi diferente, quando ele ligou, eles conversaram por horas, até que então, ele gentilmente pede alguns favores pra ela. Pediu primeiro que ela destrancasse a porta de seu quarto e abrisse toda a casa, que se encontrava fechada havia dias. Depois, falou que ela encontraria algumas cartas dentro da caixinha de correio, e cada uma com um numero. Era pra ela seguir à risca o que cada carta dizia, começando do número um. Assim ela desligou o telefone e fez o que ele pediu. As cartas eram instruções, falavam pra ela se alimentar, tomar um banho, colocar a roupa que ela mais gostasse, e logo depois abrir a porta de sua casa. Ela achou tudo meio estranho, mas assim o fez. Ao abrir a porta, encontrou ele ali, parado, havia várias horas, esperando pacientemente por esse momento. A porta do mundo dela, até então trancada, se abriria somente agora, somente para ele. Então a porta se fecharia a sete chaves, para ele nunca mais sair dali.

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