quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Memórias.

Era tarde da noite, eu já havia tirado meus calçados e colocado os chinelos de lã. O frio uivava ferozmente lá fora, o estalido da lareira fazia com que meus pensamentos se confundissem o tempo inteiro. A chaleira estava chiando, anunciando que a água para o meu café acabara de ferver. Lutando contra o frio, levantei-me e fui em direção à cozinha passar meu café. Caminhava lentamente, passo seguido de passo, como alguém que não tinha pressa para fazer nada. Estava passando meu café agora, o doce aroma que saía com a fumaça não invadiu somente a cozinha, invadiu a meus pensamentos também. Um turbilhão de memórias apagadas pelo tempo retornavam nesse momento, memórias das quais eu já deveria ter me esquecido. Começo a pensar nos finais da tarde quando, sentado à mesa que estava logo atrás de mim, você costumava comentar de quão bom era o aroma do meu café, e após o primeiro gole, me elogiava falando que eu melhorava a cada dia. Dou um longo suspiro, fazendo com que as memórias se misturem com a fumaça da água quente. Coloco meu café na térmica e caminho em direção à sala, procurando o calor da lareira. A mesma memória insistiu em voltar ao pensamento, fazendo com que eu desse atenção ao assunto. Como agi errado, não fazia sentido ter sido daquela forma, não fazia sentido nem ter começado com todas as complicações que acarretaram com um final. Eu tinha tudo em mãos, e por culpa do meu alter ego fiz com que nosso amor ruísse. Lágrimas agora molham os meus olhos. Dou um gole de café, amargo e forte, da maneira que você sempre gostou. Sinto um aperto enorme no meu coração. Lembro de um punhal embaixo da minha poltrona, costumava deixá-lo lá por precaução. Pego-o. Admiro demoradamente a lâmina afiada, nunca usada antes. Agora as lágrimas jorram como uma cachoeira, pensamentos obscuros se passam pela minha cabeça. Um último gole na minha xícara de café. Um último e longo suspiro. Com um movimento incerto, as mãos meio trêmulas, cravo aquele punhal no meu peito. Um grito de dor intensa, porém nada comparada a dor que você me fez sentir.

Um comentário:

Sobre mim

Minha foto
Santiago, Rio Grande do Sul, Brazil
Ainda não há palavras que descrevam o que sou eu.