Há algum tempo atrás, me peguei
sentada na frente do computador com minha xícara de café, louquinha de tédio e
a procura de alguma coisa interessante para fazer. Levantei, dei uma volta pela
casa inteira à procura de algo novo. Nada. Voltei para o computador, dei um
gole no café. Fiquei observando por alguns segundos -que me
pareceram horas- aquele plano de fundo. Vaguei os olhos pelos ícones do meu
'desktop'. Editor de fotos, programa para baixar partituras, navegador de
internet. Nada novo. Fui lá dar outra volta na casa. Deparei-me com o espelho que tem na parede da
minha sala. Olhei para meu reflexo, fiz uma careta, ri sozinha. Não, isso não
era legal e muito menos novo. Fui eu então procurar outra coisa pra fazer. Enquanto vagava do quarto pra sala, pra
cozinha, pra varanda, pensava no quanto me sentia inútil por não encontrar nada
-ou achar que não tinha nada- pra fazer. Sentei ao piano, não toquei nem metade
de uma música. Que diabos estava acontecendo comigo?
Sentia-me sem serventia alguma, me sentia um nada, me sentia o branco colocado
acima do próprio branco. E é engraçado o fato de que não só eu, mas que a
grande maioria das pessoas geralmente se sente assim.Voltei a me observar no espelho, mas
dessa vez não minha face, e sim minhas características, minhas virtudes. O que
escondia eu, por baixo dessa carcaça? Nem eu mesma sabia. Quem sabe um pouco de
amargura, ou talvez muito amor pra dar pra qualquer um. Quem sabe.Sempre achei muita graça esse lance
de falarem que cada pessoa tem sua própria identidade, afinal sempre me vi
sendo qualquer um deles. Sou dessas pessoas que costumam se colocar no lugar
dos outros e tentar pensar que nem ambos antes de fazer as coisas.Pensei em escrever um texto, qualquer
rabisco sobre o que acabara de descobrir, que eu ainda não sou nada comparado
ao que todos os outros são. Eu queria juntar todos eles dentro de mim, e me
tornar uma pessoa com que todos pudessem se comunicar, e logo após comentarem
“Nossa, vejo muito de eu em você”. Mas, de que me adiantaria um texto, se a
maioria não o leria?Pensei então em pintar um quadro, fazer
um cartaz, qualquer coisa. Algo, por favor, que me tirasse do tédio e me
deixasse expressar para os outros quem eu sou. Criatividade, querida
criatividade... Cadê você nessas horas? Acho que a perdi dentro da xícara de
café.Deito na minha cama, olhando pro teto
–que costumou sempre ser minha tela reprodutora de filmes- e acabo por me ver,
novamente, a procura de algo novo. Começo a contar carneirinhos, até que me
perco nos números. Então me veio em mente todas minhas histórias. Algumas
tristes, outras até que bem engraçadas. Rio sozinha de novo. Viro para o lado,
dou um suspiro profundo. Pronto, achei algo para curar meu tédio. Fecho os
olhos, e me deixo levar pelo sono.